Fim da música e novas proibições nas praias do Rio causam revolta entre ambulantes
Ambulantes e barraqueiros se reuniram nesta segunda-feira (26) para protestar na Avenida Atlântica, em Copacabana, contra as novas determinações que passarão a valer nas praias do Rio de Janeiro a partir do próximo domingo (1º). O ato contou com faixas, cartazes e palavras de ordem em defesa da permanência dos trabalhadores na orla.
Por volta das 13h, duas faixas da via estavam bloqueadas na altura do Copacabana Palace, no sentido Ipanema, o que causou desvio do tráfego para a Rua Barata Ribeiro. Mais tarde, às 15h, o protesto seguiu em direção à Avenida Vieira Souto, na altura do Posto 9, ainda ocupando duas pistas da via.
Entre as mudanças mais polêmicas do novo decreto estão a proibição de música ao vivo nos quiosques, a proibição da venda de garrafas de vidro (tanto em barracas quanto em quiosques), e a exigência de cadastro oficial para ambulantes atuarem na areia.
Os manifestantes relataram frustração por já terem tentado se cadastrar junto à prefeitura, sem sucesso. Eles cobram diálogo e temem perder suas fontes de renda com as novas exigências.
Uma reunião foi agendada pela prefeitura para esta terça-feira (27), às 9h30, com a presença de representantes dos quiosques, barraqueiros e vereadores da comissão especial da Câmara que acompanha o tema. A expectativa é buscar um consenso que contemple tanto a organização da orla quanto a preservação dos empregos.
Tanto o sindicato de bares e restaurantes quanto a empresa responsável pela administração dos quiosques são contra a retirada da música ao vivo. Segundo eles, a medida impacta negativamente o setor.
Estudos internos apontam que a presença de atrações musicais aumenta em mais de 10% o consumo médio dos clientes, fator essencial principalmente durante os períodos de baixa movimentação. A ausência da música pode representar uma perda econômica de milhões por ano e o corte de mais de 1.200 postos de trabalho, entre diretos e indiretos.
“A música é essencial para os quiosques. Vai além de atrativo turístico é uma fonte de renda para centenas de profissionais,” afirma Bruno de Paula, empresário responsável por cinco quiosques na orla. “Só no meu grupo, contratamos mais de 550 músicos por mês.”
A prefeitura justifica as mudanças como uma forma de garantir mais segurança, conforto e organização para frequentadores e trabalhadores da praia, mas o embate entre a regulamentação e a subsistência de quem vive do comércio na areia segue acalorado.
Audiência pública intensifica debate sobre novas regras nas praias
Na semana passada, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro promoveu uma audiência pública que reuniu comerciantes da orla, vereadores e representantes de diversas categorias impactadas pelo novo decreto sobre o uso das praias. O encontro já estava previsto antes mesmo da publicação oficial das novas regras.
A iniciativa partiu do vereador Flavio Valle (PSD), que é autor de um projeto de lei com propostas alternativas para o ordenamento das praias cariocas, incluindo medidas que divergem em alguns pontos das estabelecidas pelo Executivo.
Foto do Vereador Flavio Valle
Diante da semelhança entre os temas, a audiência, que inicialmente seria voltada apenas à discussão do projeto de Valle, acabou dominada pelo debate em torno do decreto do prefeito Eduardo Paes.
Durante o encontro, parlamentares e trabalhadores da orla concordaram quanto à necessidade de organização e regulamentação, mas expressaram críticas específicas principalmente no que diz respeito à proibição da música ao vivo nos quiosques, considerada excessiva e prejudicial ao setor.
Alguns vereadores afirmaram que há margem para o prefeito reavaliar partes do decreto, especialmente após o diálogo e as reivindicações apresentadas durante a audiência.
A fiscalização das novas diretrizes começa oficialmente no dia 1º de junho, mas até lá, agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública seguem realizando ações educativas com os comerciantes, explicando como as normas devem ser aplicadas.