Trump diz que chegou a hora dos EUA passarem à frente da China; Pequim acusa os americanos de ‘bullying
Em meio à escalada da disputa comercial sem precedentes entre os Estados Unidos e a China, o presidente americano, Donald Trump, fez declarações contundentes ao acusar o país asiático de explorar injustamente os americanos ao longo dos anos — e garantiu que chegou a hora de revidar.
“Eles sempre se aproveitaram de nós. Agora é a nossa vez de dar o troco”, afirmou Trump durante um jantar do Comitê Nacional Republicano para o Congresso, realizado na noite de terça-feira (8).
A fala de Trump faz referência à decisão recente de aumentar significativamente as tarifas sobre produtos chineses, como resposta à mais recente rodada de medidas retaliatórias tomadas por Pequim. Ainda na terça-feira, o governo dos EUA anunciou que a taxa sobre importações da China subiria para 104%, intensificando a guerra tarifária após a resposta chinesa à rodada anterior de sanções americanas.
Na manhã de quarta-feira, o governo chinês reagiu duramente às declarações do presidente americano. O Ministério das Relações Exteriores da China classificou as atitudes dos EUA como “atos de intimidação” e acusou Washington de praticar “bullying econômico”.
“Os Estados Unidos seguem abusando das tarifas contra a China. Nos opomos veementemente a esse comportamento hegemônico e jamais o aceitaremos”, declarou o ministério em nota oficial.
Pequim também reiterou que está aberta ao diálogo, mas impôs condições claras: “Se os EUA realmente desejam negociar, devem fazê-lo com respeito, igualdade e benefícios mútuos”. Contudo, advertiu que, se Washington mantiver o curso da confrontação, a China está pronta para responder até o fim.
Mais tarde, a China anunciou uma nova rodada de retaliações, elevando para 84% as tarifas sobre produtos americanos, aprofundando ainda mais a tensão entre as duas maiores economias do planeta.
“Puxando o saco”: Trump ironiza líderes estrangeiros em jantar político
Durante o jantar do Comitê Nacional Republicano para o Congresso, na terça-feira (8), o presidente Donald Trump voltou a provocar a comunidade internacional ao afirmar que líderes de diversos países estariam “bajulando” os Estados Unidos na tentativa de negociar tarifas comerciais mais favoráveis.
“Esses países estão me ligando, puxando o meu saco. Estão desesperados para fechar um acordo. ‘Por favor, senhor, me deixe fazer um acordo!'”, disse Trump, arrancando risos da plateia.
Em inglês, o presidente utilizou a expressão “kissing my ass”, que pode ser traduzida como “puxar o saco” ou “bajular”, embora sua tradução literal seja mais vulgar: “beijar meu traseiro”.
A declaração foi feita poucas horas antes de entrarem em vigor as tarifas individualizadas, aplicadas a partir da 1h desta quarta-feira (9). O maior destaque vai para a tarifa de 104% imposta sobre produtos chineses, intensificando ainda mais a guerra comercial. No último sábado (5), as tarifas gerais já haviam sido ativadas.
Mais cedo, Trump demonstrou confiança de que a China acabará cedendo. “Acredito que eles vão aceitar um acordo em algum momento”, afirmou. Ele também acusou o país asiático de manipular sua moeda para suavizar o impacto das tarifas.
“Eles estão manipulando a moeda hoje para compensar os efeitos das tarifas. É preciso admitir: eles estão tentando contornar a situação a qualquer custo”, declarou o presidente no mesmo evento republicano.
China no centro do tarifaço dos EUA
Na tarde de terça-feira, a Casa Branca confirmou que a tarifa de 104% sobre produtos chineses começará a ser aplicada a partir desta quarta-feira (9), marcando mais um capítulo da acirrada guerra comercial entre Washington e Pequim.
A medida vem como resposta à retaliação anunciada pela China na última sexta-feira, quando o país asiático impôs uma tarifa de 34% sobre todas as importações dos EUA — espelhando o percentual aplicado anteriormente pelos americanos.
Donald Trump, por sua vez, não recuou: embora tenha dito acreditar que a China deseja um acordo, dobrou a aposta e anunciou um aumento adicional de 50% nas tarifas contra os chineses, elevando a alíquota total para os atuais 104%.
O governo chinês reagiu com firmeza. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores declarou:
“Os EUA continuam abusando das tarifas para pressionar a China. Nos opomos veementemente e jamais aceitaremos esse tipo de intimidação.”
Já o Ministério do Comércio da China reforçou o compromisso com o contra-ataque:
“A China tem vontade firme e meios suficientes para responder. Revidaremos até o fim.”
“Não buscamos uma guerra comercial, mas jamais ficaremos passivos diante da violação dos direitos e interesses do povo chinês.”
Além da disputa com a China, entraram em vigor nesta quarta-feira as tarifas recíprocas individualizadas, voltadas a mais de 180 países com os quais os EUA têm déficits comerciais significativos. As novas taxas variam entre 10% e 50%, dependendo do país.
Mas como a tarifa contra a China chegou a 104% ?
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Fevereiro: os EUA aplicaram uma nova tarifa de 10% sobre produtos chineses, somando-se aos 10% já em vigor, totalizando 20%;
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2 de abril: Trump anunciou um plano de “tarifas recíprocas”, com acréscimo de 34%, elevando a taxa para 54%;
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5 de abril: após a retaliação chinesa com 34% sobre produtos americanos, a Casa Branca subiu novamente a taxa, adicionando mais 50%, chegando à atual alíquota de 104%.