Um terremoto de magnitude 7,7 atingiu Mianmar na sexta-feira (28), sendo fortemente sentido também na Tailândia e na China. Em Mianmar, mais de mil pessoas perderam a vida e 2.376 ficaram feridas. Na Tailândia, pelo menos nove pessoas morreram, e um prédio em construção desabou em Bangkok, deixando 101 desaparecidos.
A dimensão catastrófica dos danos foi causada pela profundidade rasa do epicentro, localizado a apenas 10 quilômetros, conforme explicou o pesquisador Roger Musson, do Instituto Geológico Britânico, em entrevista à Reuters. A medição foi realizada pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
“O terremoto foi muito destrutivo porque ocorreu a uma profundidade rasa, impedindo que as ondas de choque se dissipassem antes de atingir a superfície. Assim, os edifícios sofreram toda a força da trepidação”, explicou o pesquisador.
Terremotos com profundidade superior a 50 km também podem causar danos extensos, mas a intensidade do tremor é reduzida, pois as ondas sísmicas percorrem uma longa distância antes de atingir a superfície.
Em Mianmar, a região de Sagaing tem sido impactada por diversos terremotos ao longo dos anos. No final de 2012, um tremor de magnitude 6,8 deixou ao menos 26 mortos e dezenas de feridos. No entanto, o evento da última sexta-feira foi considerado “provavelmente o maior” a atingir o país em 75 anos, afirmou o especialista em terremotos Bill McGuire à Reuters.
Vídeo do momento em que prédio desaba na Tailândia após terremoto com epicentro em Mianmar
Por que Mianmar é vulnerável a terremotos?
Mianmar está localizado na fronteira entre duas placas tectônicas, tornando-se um dos países mais sismicamente ativos do mundo. Apesar disso, grandes terremotos são relativamente raros na região de Sagaing.
“É importante não focar apenas no epicentro, pois as ondas sísmicas não se irradiam apenas desse ponto – elas se propagam ao longo de toda a linha da falha geológica”, explicou Roger Musson.
A professora Joanna Faure Walker, especialista em terremotos da Universidade College de Londres, explica que a fronteira entre as placas tectônicas da Índia e Euro-asiática atravessa Mianmar, dividindo o país. Essas placas se movem horizontalmente, mas em velocidades diferentes.
Esse deslocamento provoca terremotos do tipo “strike-slip”, nos quais as placas deslizam lateralmente. Embora, em geral, sejam menos destrutivos do que os terremotos de subdução – onde uma placa é forçada para baixo da outra –, ainda podem atingir magnitudes entre 7 e 8, causando grandes danos.
Mianmar estava preparado para esse terremoto?
O Programa de Perigos de Terremoto do USGS alertou na sexta-feira que as fatalidades poderiam ficar entre 10 mil e 100 mil pessoas. Além disso, o impacto econômico pode representar até 70% do PIB do país.
O pesquisador Roger Musson explicou que essas previsões são feitas com base em dados de terremotos anteriores, levando em conta a magnitude, localização e o nível de preparação de Mianmar para esses eventos.
A região de Sagaing, próxima à densamente povoada Mandalay, registra poucos terremotos de grande intensidade, o que fez com que sua infraestrutura não fosse projetada para resistir a tremores severos. Isso aumenta o risco de destruição em eventos sísmicos mais fortes.
Musson destacou que o último terremoto significativo na região ocorreu em 1956, e muitas construções não foram erguidas para suportar a força das ondas sísmicas que atingiram o país na sexta-feira.
“A maioria dos terremotos em Mianmar ocorre mais a oeste, enquanto este teve seu epicentro na região central do país”, explicou.
