Morre aos 88 anos o Papa Francisco, líder que desafiou tradições e marcou seu pontificado pelo diálogo e pela empatia
Jorge Mario Bergoglio, conhecido mundialmente como Papa Francisco, faleceu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, encerrando um dos papados mais marcantes e humanos da história recente da Igreja Católica.
Após uma internação de 38 dias no Hospital Gemelli, em Roma — iniciada em 14 de fevereiro e encerrada em 23 de março — para tratar uma bronquite que evoluiu para pneumonia bilateral, o líder religioso continuava demonstrando sinais de saúde debilitada, mesmo após receber alta.
Na véspera de sua morte, no domingo de Páscoa, Francisco ainda apareceu, visivelmente enfraquecido, na sacada da Basílica de São Pedro, de onde proferiu a tradicional bênção Urbi et Orbi — sua última mensagem pública à Igreja e ao mundo.
O falecimento foi confirmado às 7h35 da manhã (horário de Roma), o que corresponde às 2h35 no horário de Brasília.
“O Bispo de Roma, Francisco, voltou à casa do Pai. Toda a sua existência foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, declarou o Vaticano em nota oficial.
Reconhecido como um pontífice transformador, Francisco quebrou paradigmas, aproximando a Igreja dos mais pobres e marginalizados, e consolidou-se como um símbolo de diálogo, inclusão e justiça social. Sua jornada foi marcada por gestos de simplicidade e por posicionamentos firmes diante dos desafios sociais e ambientais do mundo contemporâneo.
Primeiro papa jesuíta e latino-americano da história, Jorge Mario Bergoglio guiou a Igreja Católica em um período marcado por intensas mudanças, enfrentando desafios internos e externos com uma postura firme, porém sempre ancorada na misericórdia e no espírito de renovação.
Seu pontificado destacou-se por uma atuação voltada à defesa dos imigrantes, ao combate à desigualdade social e por um clamor urgente em prol da preservação ambiental. Com essas pautas, Francisco consolidou-se como um dos líderes religiosos mais influentes do século XXI.
Uma vida de fé e vocação
Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos, Bergoglio trilhou seu caminho espiritual desde cedo. Ingressou no seminário diocesano de Villa Devoto e, aos 22 anos, iniciou o noviciado na Companhia de Jesus, ordem religiosa conhecida por sua dedicação ao ensino e ao serviço social.
Em 1963, formou-se em Filosofia pelo Colégio de São José e, nos anos seguintes, lecionou filosofia e psicologia em colégios católicos da Argentina, ao mesmo tempo em que aprofundava seus estudos teológicos. Em 1969, foi ordenado sacerdote, iniciando assim uma trajetória que o levaria ao comando da maior instituição religiosa do mundo.
Foto de Papa Francisco Jovem
Na década de 1980, Jorge Bergoglio passou a ocupar posições de destaque na Companhia de Jesus, tendo sido nomeado provincial da ordem na Argentina em 1973. Seu período de liderança coincidiu com um dos momentos mais sombrios da história do país: a ditadura militar.
Durante esse contexto de repressão, Bergoglio enfrentou grandes dilemas éticos e pastorais. Embora tenha sido alvo de críticas por sua postura considerada prudente diante do regime, nunca deixou de defender a dignidade humana e atuou, de forma discreta porém firme, em defesa dos direitos humanos e da proteção de perseguidos políticos.
Em 1992, Jorge Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, seis anos depois, em 1998, assumiu o cargo de arcebispo da capital argentina. À frente da arquidiocese, reforçou ainda mais seu compromisso com a justiça social, dedicando-se a iniciativas voltadas aos mais pobres e à promoção da inclusão social.
Papa Francisco em 1992
Sua abordagem pastoral próxima do povo, marcada pela simplicidade, escuta e compaixão, aliada à sua capacidade de diálogo com diferentes setores da sociedade, fizeram dele uma figura amplamente respeitada, tanto no âmbito eclesial quanto na vida pública argentina.
Do Colégio Cardinalício ao Trono de Pedro
A trajetória de Jorge Bergoglio deu um novo passo em 2001, quando foi nomeado cardeal por São João Paulo II. A partir daí, passou a exercer influência crescente nos bastidores da Igreja, participando ativamente de sínodos e conclaves, onde sua visão pastoral e experiência nas periferias urbanas ganharam destaque.
Conhecido por sua postura discreta, mas firme, Bergoglio defendia com convicção uma Igreja mais próxima do povo, menos burocrática e mais sensível às urgências do mundo contemporâneo. Pregava uma fé viva, voltada à solidariedade, escuta e compaixão, especialmente diante das dores sociais.
Sua liderança pastoral singular não passava despercebida. Em Buenos Aires, era comum encontrá-lo caminhando por vielas humildes, visitando comunidades carentes, dialogando com moradores e acolhendo histórias de fé e resistência. Esse estilo direto e humano de evangelizar fez com que se tornasse uma referência dentro e fora da Argentina.
A Eleição Papal e o Nome Francisco
Em 2013, após a surpreendente renúncia do Papa Bento XVI, Jorge Mario Bergoglio foi eleito 266º Papa da Igreja Católica, assumindo o nome de Francisco. Ao escolher esse nome, fez uma clara alusão a São Francisco de Assis, simbolizando seu compromisso com a pobreza, a simplicidade e a proximidade com os marginalizados. Desde sua eleição, seu papado se tornou um marco de renovação, com ênfase em misericórdia, diálogo inter-religioso e defesa incansável dos direitos humanos.
Um Legado de Humildade
O Papa Francisco foi reconhecido por sua abordagem pastoral acessível e humanizada. Ele quebrava as barreiras tradicionais da Igreja ao visitar comunidades carentes, exortando os membros da Igreja a se engajarem ativamente nas questões sociais e a ir além dos limites das paredes do Vaticano. Sua encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, trouxe um apelo profundo sobre a crise ambiental, enfatizando a necessidade urgente de preservar o meio ambiente e cuidar da criação de forma responsável — um chamado que reverberou globalmente, motivando ações concretas em diversos setores da sociedade.
Além de sua atuação em prol da justiça social, o Papa Francisco foi um defensor fervoroso do diálogo entre religiões, trabalhando para cultivar paz e compreensão mútua entre diferentes culturas e crenças. Sua visita histórica ao Iraque e ao Egito destacou-se como um gesto significativo de seu compromisso em unir as religiões e promover a tolerância e o respeito em tempos de crescente divisão e conflitos.
Nos últimos anos de seu papado, o Papa Francisco enfrentou desafios internos significativos, incluindo debates sobre reformas estruturais e a necessidade de respostas eficazes às crises institucionais da Igreja. Contudo, continuou sendo uma voz influente em questões cruciais como justiça social, imigração e mudanças climáticas.
Seu legado será lembrado como o de um Papa que buscou tornar a Igreja mais inclusiva e acessível, especialmente para os necessitados, ao mesmo tempo em que enfrentava os desafios do mundo moderno. O impacto de Francisco ultrapassou os limites do catolicismo, consolidando-o como um líder global que pregou compaixão, humildade e esperança até seus últimos dias.
Descanse em Paz, Jorge Mario Bergoglio 1936 – 2025 ✞