Infraestrutura nuclear iraniana sob ameaça reacende temor de vazamento, alerta organismo da ONU
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) fez um pronunciamento de alerta após avaliar os impactos provocados pelos recentes bombardeios ao território iraniano, que afetaram áreas relacionadas ao programa nuclear do país.
No quarto dia consecutivo de ataques, o Irã elevou o tom e cogitou uma medida drástica: abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). De acordo com autoridades do país, um grupo de parlamentares está preparando um projeto de lei para formalizar a saída. O porta-voz da chancelaria iraniana declarou que, mesmo ainda em fase de formulação, qualquer decisão aprovada pelo Parlamento será de cumprimento obrigatório. Ainda assim, o presidente Masoud Pezeshkian afirmou que o país não tem interesse em fabricar armamentos nucleares, mencionando inclusive uma fatwa (decreto religioso) do líder supremo, Aiatolá Ali Khamenei, que proíbe o uso de armas de destruição em massa.
O Irã é signatário do TNP desde 1970 tratado que atualmente conta com 191 países participantes. Entre os poucos que permanecem fora estão Coreia do Norte, Paquistão, Índia e Israel este último amplamente apontado como o único detentor de ogivas nucleares no Oriente Médio, embora jamais tenha confirmado oficialmente essa condição.
O tratado exige que os países não possuidores de armas nucleares se comprometam a não desenvolvê-las e aceitem fiscalizações rigorosas por agências internacionais. No entanto, autoridades iranianas acusaram o órgão nuclear da ONU de endossar ações militares contra o país, tensionando ainda mais a relação com o Ocidente.
Um relatório recente da AIEA revelou irregularidades no programa nuclear iraniano. Segundo o documento, foram encontrados materiais radiativos não declarados em locais secretos, sem conhecimento prévio dos inspetores internacionais. Como consequência, a agência aprovou uma resolução formal contra o Irã, a primeira em duas décadas. Mesmo assim, o governo iraniano mantém a alegação de que suas atividades nucleares têm fins exclusivamente pacíficos.
Enquanto isso, em Viena, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, relatou que a instalação de Fordow, construída no interior de uma montanha, não sofreu danos diretos. Já em Isfahan, quatro edifícios ligados ao setor nuclear foram atingidos por mísseis.
Com relação à instalação de Natanz, considerada o coração do enriquecimento de urânio no país, houve prejuízos estruturais na superfície, mas nenhuma evidência de que os setores subterrâneos tenham sido comprometidos. Grossi advertiu, porém, que quedas de energia podem ter afetado as centrífugas, prejudicando o funcionamento do complexo.
“Essa escalada militar representa uma séria ameaça à vida humana, aumenta o risco de vazamentos radioativos com consequências devastadoras para o meio ambiente e dificulta o avanço de soluções diplomáticas”, afirmou Grossi em comunicado.
Em Genebra, representantes das Nações Unidas também manifestaram preocupação com o agravamento do conflito, destacando os riscos que a instabilidade regional traz tanto para a segurança global quanto para a proteção de civis.
